quinta-feira, 7 de maio de 2009

O ÚLTIMO CORVO...

Lisboa, já não cheira a laranjas maduras...

O Tejo embarca no cais da saudade
deixando uma lágrima vagabunda
escorrer...
pela margem... desesperada.

As colinas acenam,
num gesto repetido, de despedida...

As ruas vazias, de gente apressada,
comentam com as esquinas, outros tempos de glória...
de um Castelo, que agora atormentado... chora.

O poeta espera ainda na mesa
o golpe de mestre...
mas ainda escreve... Pessoa,
na inevitabilidade de si mesmo.

Do céu cai a mosca persistente... de O' Neal...
rasante... já não voa.

O Rato, corre ao Beato,
a Estrela... olha o Bairro Alto...
mas já não brilha...

Camões parece dizer... a uma ninfa de sua memória...
agora é que é... esvaio-me... filha!

A sardinha no pão
jaz no fogão...
o gato fugiu também
com o guarda da estação...
quem me deita, se não for o dente... a mão?

O Chiado, perde a razão...
e arrasta pelo chão,
o Arco do Cego... o fado e a canção.

Há um Rossio á deriva, no Mar da Palha...

e eu... eu assisto,
num cadeirão, da Madragoa...

Sou nesta vida, talvez
a décima segunda...
um corvo... o último a abandonar esta nau...
que nos levou um dia...

ao mundo.
J.B.

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